Covadonga
Já vos contei, por aqui, algumas coisas sobre Covadonga.
Também já vos falei, por aqui, do meu amigo Pelágio, das suas Montanhas Lindas, das suas Astúrias, da sua ida para Córdoba, sob o jugo muçulmano, como refém, como nobre visigodo, ... Enfim, tudo tem a sua razão para levar a efeito a sua caminhada.
Todos calculamos, mais ou menos, como terá sido a vida de então, na nossa Península, mais ainda, nas zonas de influência do poder.
A partir da morfe do rei visigodo Roderick e de todos que com ele tentaram enfrentar os invasores de outras paragens, avançando desde Toledo até Guadalete, onde acabaram por morrer em combate ou em fuga, a vida nas espanhas, tornou-se um pesadelo!
Do género ... ou te convertes a Alá, ou morres, ou pagas ...
Pelágio no seu Pedestral
Todos os que viviam do povo, como os nobres visigodos e suevos, ficaram destroçados e os povos passaram a servir outros poderes. Por isso, sob o avanço muçulmano, uns eram os trocidados e outros seriam os que tentariam sobreviver fugindo. Recuando sempre até encontrarem o mar, algures lá por trás das paredes Cantábricas.
De entre os que escaparam às escaramuças levadas a cabo pelos muçulmanos, houve os que se foram firmando lá pelos lindos vales cantábricos. Por trás havia o mar e para além do mar não haveria mais nada. Por isso, apenas haveria duas potenciais soluções: o jugo ou a morte!
Pelágio em frente da Igreja
Então, a dureza dos montanheiros das Astúrias, mais os que de outras paragens foram chegando, aprenderam a observar em volta que, ali, seria, sem dúvida, o seu último reduto e que nada mais restava, senão lutar até à morte.
No reduto das Astúrias, estava a esperança de todos! Todos nas suas montanhas eram reis! Foram travando escaramuças e vários tipos de lutas contra os muçulmanos que foram chegando de todos os lados e até pelas minhs Montanha Lindas eles foram passando. Eles sabiam que para derrotar todos os que enquadraram as suas defesas integrando-as pelas montanhas cantábricas, teriam de travar uma luta para além das simples escaramuças que iam perdendo.
Daí, da organização de forças, resultou a tal Batalha de Covadonga que os muçulmanos perderam, mas ainda não satisfeitos, reorganizaram-se e houve mais uma batalha onde, mais uma vez, foram destroçados e perderam o seu comando em Proaza com a morte do seu comando, na pessoa do Governador muçulmano, Munuza.
A Basílica de Covadonga
Daí em diante, por muito tempo, a chama viva asturiana iluminou a ibéria, foram séculos de lutas, com avanços e recuos, até à queda de Granada.
Por isso, apesar de ter por duas vezes, passado junto de Covadonga, sempre a pensar nos tempos da Reconquista, houve um dia que me senti parte dessa luta. O dia em que, pela primeira vez, vi o meu amigo Pelágio, de espada na mão, e com a sua alma bem incrustada naquela estátua de pedra.
Apontei a minha máquina àquela estátua e ouvi a voz de Pelágio dizer-me: "partilho contigo, a minha glória, Ventor"!
Imaginei-me, então, no seio dos homens cantábricos, lutando, palmo a palmo, por cada pedaço, por cada quinhão das suas montanhas! Partilhei da sua caminhada sobre cada vale, cada rio, cada morro dos seus montes até às planuras a sul de León!
A Pia da Água Benta
Não pude deixar de prestar a minha homenagem a todos aqueles homens que, a partir de Covadonga, levaram a bom porto a libertação da Península das mãos dos invasores. Sim! Por bem ou por mal, os muçulmanos não passaram de uns invasores, tais como outros já o tinham sido. A Península Ibérica, foi sempre, uma encruzilhada de mundos.