A última Águia
Hoje, chamaram-me para ouvir uma notícia triste na SIC.
Um estudioso da Águia Real por zonas das Minhas Montanhas Lindas, diz que apenas há uma Águia Real no Parque Nacional da Peneda Gerez.
Imagem de Águia Real retirada da Wikipédia
Eu sinto o meu corpo estremecer quando ouço o «Grito da Águia». Normalmente o Grito da Águia de Asa Redonda, ou da Águia de Boneli. Sinto que elas me chamam e me fazem queixa do nosso desnorte.
Antigamente, nos meus tempos de miúdo, eu ouvia nos vales e montanhas da serra de Soajo, os gritos das Águias Reais. De vez em quando, aparecia junto de mim, a voar ou pousada, o corpo majestoso da Águia Real. Normalmente aparecia sempre solitária, mas cheguei a ver o casal a fazer as suas danças nupciais. Cheguei a ver uma Águia Real apanhar um cordeiro diante da sua dona e larga-lo nas alturas, talvez por a pele do animal se ter rompido nas garras daquela beleza alada.
Ainda tinho esperança de, na minha próxima ida à Pedrada, encontrar alguma Águia Real a fazer-me companhia, mas a esperança é muito ténue. De qualquer modo, ouvi um senhor, na imagem, dizer que ela tinha voado para os lados do Ramiscal. Eu que atravessei o Ramiscal com 12 anos, sob giestas retorcidas na raiz, carvalhos e matagais sem fim, há muitos anos, não precisarei de o fazer hoje, para ver a Águia Real se ela por lá andar. Vou fazer pousar a grande Águia junto de mim, Miguel Dantas!
Certamente que preferias as rogosidades das rochas ou o galho de uma árvore, que estar cercada de arame em rede sobre boas madeiras aplainadas. Choro silenciosamente a tristeza da tua prisão.
Deixo aqui um obrigado a todos que trabalham, todos os dias, para fazerem abrir nucas de cabeças nhurras!
Espera por mim Águia linda, para podermos ver juntos, mais uma vez, as nossas Montanhas Lindas. A única homenagem que te posso prestar é escrever sempre o teu nome com letra grande.
Eu acredito nele, porque não tenho razões para não acreditar, antes pelo contrário! No processo desencadeado pelo progresso da chamada «modernidade», o homem desencadeou a sua própria extinção e de todos os animais seus companheiros de caminhada. As causas são muitas e deixo-as para os especialistas, mas não deixarei de considerar a minha espécie de «bicho execrável»!
Acredito que o Eng. Miguel Dantas, creio ser este o seu nome, que se dedica ao estudo da Águia Real, há vinte anos, segundo ouvi, verterá lágrimas pela sua «querida amiga», quando notar a falta dela nos céus, sobre a sua cabeça.
Todos que são honrados com as aparições dessa e de outras belas rapaces, sentirão saudades, um dia, de não mais acompanharam a sua beleza a cruzar os ares entre as montanhas ou ver o seu perfil pousado sobre as mais altas rochas em redor.