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As Caminhadas do Ventor

Pelos Trilhos da Memória

As Caminhadas do Ventor

Pelos Trilhos da Memória

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O Ventor saiu das trevas para caminhar entre as estrelas.
Ele continua a sonhar, caminhando, que as estrelas ainda brilham no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continuará a ser belo se os homens tentarem ajudar...


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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19.10.06

Peregrinação à Peneda


Ventor

Decidi, numa das minhas caminhadas, levar-vos em Peregrinação à Peneda. Escusado será dizer-vos que não fui por baixo, entrei pela parte de cima, junto ao mosteiro, desci as escadarias todas, mesmo até ao fundo. Nada de especial mas, depois tive de as subir. Estava muito sol e muita sombra mas bastante calor. Foi nos finais de Agosto de 2006, 50 anos depois da minha primeira caminhada pelo monumento à Senhora da Peneda. Porque não tenham dúvidas, é mesmo um monumento, pelo seu valor religioso e pela sua integração naquelas montanhas maravilha.

As novidades de agora já são algumas. Os carros entram no terreiro da Peneda, as candeias de petróleo foram transformadas em candeeiros eléctricos, os campos da Peneda dão feno, na construção das casas entraram o cimento e o tijolo, no progresso entrou a luz eléctrica ... de resto, está tudo igual.

Deixei o carro à sombra do lado direito da foto e comecei por aqui, no terreiro da Senhora da peneda. Desci as escadarias todas até mesmo ao fundo e voltei a subir desde o primeiro degrau. Passando por baixo das árvores à direita desta foto, encontramos lojas e um grande estendal de bijutarias.

Porém, ao descer e ao sair fora da escadaria da Senhora da Peneda, parei a observar os campos. Outrora estavam cheios de milho e videiras, hoje servem para feno e pastos para o gado. Espero que não se venham a encher de codessos, giestas, silvas e outros matos e venhamos a perder as belezas da Peneda.

Retrospectiva, 50 anos depois

Agora imaginem-se nos anos 50 a fazer esta bela caminhada comigo.

Tudo começa aqui:

Adrão é uma aldeia de passagem de todos os romeiros que vêm do sul. Muitos prestavam homenagem à nossa santa padroeira - nossa Senhora da Conceição e seguiam rumo à Coroa e Portela.

Caminhar este monte, subindo-o desde Adrão, lá no fundo, até aqui em cima, à Portela e depois descer tudo a pique até ao fundo de Tibo, voltando a subir até à Peneda, é obra para gente habituada aos pó-pós, mas para crianças tipo cabritos-montês como nós éramos, is a peace of cake.

 

Aqui, na Portela, olhávamos a encosta que tínhamos de descer até ao rio no fundo de Tibo. Depois, ao subirmos a margem esquerda do rio da Peneda, olhávamos os poços negros e nas suas zonas baixas, víamos as trutas exibirem-se para nós. O mais certo é hoje não haver lá nenhuma. Nós éramos ágeis de perna e a caminhada durava duas horas.

 

Esta foto representa o fim da caminhada até entrarmos na escadaria que nos leva até ao Mosteiro da Senhora da Peneda. Hoje, para os mais cansados, mesmo caminhando de carro, há um tasco com bebidas e cafés. Desconheço se serve almoços e jantares. Noutros tempos nada disso existia. Apenas terminava a caminhada e queríamos iniciar a subida da escadaria.

Eu observei os mesmos campos de outrora com videiras e uvas e os gados a pastarem nos campos de feno com a aldeia mais acima.

Se há coisas que eu sempre gostei, na Peneda, foram estas leiras junto ao rio e os seus gados pastando. De um lado os animais domésticos e do outro uma mata de carvalhos, com toda a sua passarada, sem esquecer os maiores representantes, como os melros, os pombos, as rolas, os gaios ....

Aqui é o princípio de tudo! Imaginem quanto esforço para subir esta escadaria toda, cheia de patamares até à Igreja lá em cima ... de joelhos! Chamavam-lhes as "novenas". As novenas eram cerimónias religiosas de 9 dias em que as pessoas cheias de fé na Senhora da peneda lhe faziam promessas em troca de um feito milagroso.  

Depois de subir os dois primeiros lances das escadas, os maiores, damos de topo com este arco sob o qual temos de passar para termos acesso a um espaço circular, bem grande, no centro do qual fica uma coluna, em cujo topo foi colocado o Anjo da Guarda.

Gostava de não me enganar, mas julgo ser assim a descrição que vem de trás. Nesta coluna fica o Anjo da Guarda.

Espero não estar a cometer nenhum erro informativo, quanto ao Anjo da Guarda, mas agora, virando-me para trás, fotografei-o, olhando o arco por onde entrei. 

Coluna do Anjo da Guarada, no centro, estão instaladas as primeiras capelinhas que fazem referência à vida de cristo.

É preciso muito tempo para apreciar estas coisas e tempo é coisa que nunca sobra. Estas capelinhas são mais ou menos semelhantes e todas nos contam uma parte dessa história evangélica. Coloquei aqui esta porta apenas para vos dizer que as imagens, autênticas obras de arte, devem ser protegidas porque, hoje não sei, mas houve tempos em que as pessoas gostariam de apedrejar as imagens que representam os romanos e os judeus na perseguição, julgamento e condenação de Cristo. Assim podemos espreitar mas não podemos apedrejar ou fotografar, porque a lente da máquina não cabe lá.

Na coluna onde se situa o Anjo a Guarda está um resumo do estorial da construção desta bela obra que muito bem enfeita as minhas Montanhas Lindas.

Mas para concretizarmos a caminhada teremos de prosseguir viagem. Na Senhora da Peneda, sombras é coisa que não falta e a caminhada torna-se soft, apesar do calor.

Assim, enquanto uns sobem, outros descem e torna-se uma massada tirar fotos, tentando não apanhar gente. 

Eu continuo com passda sobre passada mas a minha máquina vai-se chegando primeiro que eu ao objectivo. Ainda estou muitos degraus para trás, com alguns patamares pelo meio, mas a máquina, apressada, vai indo à frente. 

Aqui virei-me para trás e  mostro-vos o centro do terreiro, lá no fundo

Continuando a subir o escadório, eu vou a pensar numa imperialzinha fresca que me aguarda com paciência, coisa que eu não tinha nesse momento. Para fotografar a Senhora da Peneda, razoavelmente, terei de fazer umas "novenas" e combinar com o padre o acesso a todos os locais incluindo as capelinhas. 

À medida que me aproximo, sinto-me com vontade de ir beber a imperial e voltar a descer e a subir outra vez tudo aquilo, mas tinha mais dois objectivos e a areia da ampulheta esvaziava-se. 

Assim alternando com sol e sombra, sem que isso tenha a ver com a malfadada tourada, lá vou subindo degrau a degrau. 

Voltei a olhar para trás para medir, com a vista, a caminhada realizada e achei, mais uma vez, tratar-se de uma beleza! 

Agora tenho mais perto aquela estrutura rochosa da Meadinha e por baixo dela a Casa da Senhora da Peneda.

Mesmo assim, ainda tenho bastante para caminhar! Felizmente que a minha coluna não me está a impor moderação.

Mais perto da máquina do que de mim, mas a verdade é que me vou aproximando. 

Volto a olhar para o encanto da montanha, ficando pelo meio o Hotel e sei que ali perto estará a minha gente.

Ainda mais próximo, mas a perspectiva da foto engana-nos, pois o hotel não está assim tão encavalitado na igreja.

Agora sim, estou mais bem localizado para mostrar a diferença. 

E agora teria de continuar a subir todos estes degraus até à igreja mas, se calhar, chegava lá em cima e encontrava-a fechada. Pelo menos poderaia tirar uma foto panorâmica muito interessante, mas não gosto de acabar nada! Quero sempre um rabo onde me agarrar, para que, um dia, continue com motivos para voltar. 

Essa água que desce essas rochas, sai de uma lagoa muito linda que eu só conheço de fotos. Espero um dia voltar lá e subir até à lagoa e fotografar a Peneda com outras perspectivas.

Esta nogueira é a maior de todas as nogueiras que eu conheci até hoje. Ela é um marco na minha vida e faz parte dos monumentos que eu continuo a olhar passando pela Peneda. Já há 50 anos ela era enorme. Até parece que só tem mais algum musgo! Se não for mais velha, terá, talvez, a idade da Senhora da Peneda na Meadinha.

 

Tal como este cavalinho hoje, já há 50 anos lá havia um cavalinho destes. Se calhar foi neste cavalinho que a minha rapaziada mais nova que eu, tiraram fotos para me enviar para Lisboa. Se não foi nele, foi no pai dele!

Agora sim! Agota vem a tal imperial mas, enquanto ela aparece, eu observo as velhas candeias de petróleo que me davam luz nos meus tempos de menino. Hoje estão transformadas e dão-nos luz eléctrica. Belezas de ontem e belezas de hoje.

Agora sim, apetecia-me pegar no chocalho do boi da Peneda e badalar as coisas belas que ainda temos em Portugal.

De seguida, e enquanto não desanimar, vou mostrar-vos outras paragens.

PS: vai poder ver as fotos, maiores, no Fotoblog do Ventor Montanhas Lindas


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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira

02.10.06

Portela


Ventor

Ao caminharmos para o carro nas Lameiras, olhei à minha volta e escusado será dizer que só encontrei desolação e vinha farto de caminhar sobre cinzas e apavorado por ver os meus montes carbonizados, despidos de tudo e especialmente dos seus gados que, apesar de ser muito menos que outrora, ainda daria para alimentar a avidez de ver correr os garranos pela Naia e vê-los agrupados em volta do Poulo da Ferrada. Queria uma foto de garranos a correr e dize-lhes «go with the wind, and came back».

Mas não. Nada foi possível! Todos os garranos que vi foi da linha de queimada para baixo, caminhando em volta das estradas ou nas estradas. Tristes como eu, por mãos criminosas incendiarem o seu ambiente, as nossas Montanhas Lindas e outros, uma cambada de incompetentes que as deixarem arder.

Não sei se repararam na algazarra que os meios de comunicação fizeram relativamente aos fogos de 2003, 2004 e mesmo 2005. E o silêncio que mantiveram relativamente aos fogos de 2006.

Relativamente ao Parque Nacional da Peneda Gerês, um alto responsável despejou, na sua alta sabedoria, que apenas estava a arder a floresta de coníferas de Travanca e o resto era só mato. Esse maltês, apenas tem visto papéis sobre a sua secretária e girando à volta deles, porque se soubesse algo mais que isso, não falaria assim. Recordar-se ia que afinal não seria só mato. Estava a arder também o Ramiscal, os matos onde se acoitavam os lobos, as raposas, diversa passarada e tanto outro animal, bem como os pastos dos garranos, das vacas e outros que, nesta altura do ano andam pelas alturas da serra. Mas esta malta é toda muito limitada. Só têm olho para a política de caserna e da sua conveniência. Continuo com a minha que, esse incêndio nunca deveria ter passado do Mezio para cima. Mas, infelizmente, todos nos atiram com areia para os olhos.

Vejam lá se não apetece mesmo chamar anedotas a essa espécie de gente. Voltaram, há dias, todos para o Mezio para recordar aos portugueses, que em matéria de incêncdios, 2006 foi bom! Pois imaginem só, ardeu menos, muito menos que o ano passado! Ardeu menos 30%!! Ou menos ainda? Já não me recordo. Até a utlizar as estatísticas são pobrezinhos. Não nos querem dizer que, afinal, já está tudo queimado! É por isso, apenas por isso, que ardeu menos. Não ardeu menos devido ao seu desembaraço e capacidade interventiva, não! Porque aí deixaram muito a desejar, como sempre.

Mas continuando a nossa caminhada, rumo a casa, ao caminharmos para o carro nas Lameiras, olhei à minha esquerda, e num local onde via sempre muito gado, vacas e cavalos, a minha vista só encontrou duas vacas, nesta zona, por baixo da linha de queimada.

Olhando os montes da Gavieira e de S. Bento do Cando, parecia que tínhamos saído do Inferno e voltado ao Céu. Por aqueles montes, tinha eu passdo em Julho e visto rebanhos de cavalos garranos e outros, bem como as vacas, que se alimentavam em torno das brandas de S. António e Aveleiras de onde podiam trepar à Seida e ao resto da serra.

Ao descermos, chegados à Portela, encontramos a viatura dos sapadores da Gavieira, os tais que nada mais poderiam explicar, a não ser, tal como nós, encolher os ombros, sobre tamanho incêndio. A aldeia aqui por baixo é Tibo. A Portela é a montanha que faz a separação entre Tibo e Adrão.

Mas restou-nos a alegria de sabermos que pelos lados da serra da Peneda, os anjos tinham sido mais espeditos contra as chamas demoníacas.

E lá em frente, a Senhora da Peneda, continua debaixo das suas rochas a tentar velar pelos Seus montes. Aposto que Ela terá assistido tão triste como eu, à agonia de grande parte das Minhas Montanhas Lindas.

Subindo todo o vale da direita vamos aparecer por aquela garganta em Lamas de Mouro que também fará parte da minha caminhada.

Descendo da Portela de cima para a Portela de baixo, onde passa a estrada, vemos este braço da Barragem de Lindoso que passa pela aldeia da Várzea e do lado direito da foto a estrada que vai de Adrão para Paradela e antes de entrar em Paradela, sai um entroncamento para a aldeia da Várzea.

A minha caminhada, fez aqui uma paragem para olharmos ao longe a Senhora da Peneda, mas vai prosseguir por Lamas de Mouro, Castro Laboreiro, e pouco mais.


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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira