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As Caminhadas do Ventor

Pelos Trilhos da Memória

As Caminhadas do Ventor

Pelos Trilhos da Memória

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O Ventor saiu das trevas para caminhar entre as estrelas.
Ele continua a sonhar, caminhando, que as estrelas ainda brilham no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continuará a ser belo se os homens tentarem ajudar...


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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Ventor entre as Flores

07.01.10

Altamira a Camaleño


Ventor

Depois de algum diálogo com espíritos passados, em redor de La Cueva, em Altamira, reiniciamos a nossa caminhada com um objectivo bem determinado: S. Vicente de La Barquera. Desde Santillana del Mar, entramos na autovia del Cantábrico e rumamos a essa estância turística. Demos uma volta por ali, usando a pala e regressamos à autovia del Cantábrico dirindo-nos alguns kms para West. Depoiis entramos na carretera N-621, rumo a sul, rodando no Massiço Oriental dos Picos. Por ali, nos vales dos Picos e seus arredores, lá mais para o fim da tarde, recomeçaríamos a procura de local aprazível onde fizéssemos escorrer o cansaço de um dia cheio de estradas.

Rumando contra o tempo no desfiladeiro cársico do rio Deva

Após reiniciarmos a viagem, não tardou muito, começamos a penetrar num desfiladeiro que, através dos milénios, foi aberto a escopro pelo rio Deva que nasce nos montes de Fuente Dé, nos Picos da Europa e vai jorrando, umas vezes mais lento, outras vezes mais rápido, por 64 kms, até se abrir no Mar Cantábrico, numa ria a que chamam Tina Mayor.

Antes de Potes, rumando a norte, o rio abre o grande desfiladeirro cársico de La Hermida, com cerca de 20 Kms e se torna um refúgio dos abutres. Dentro desse desfiladeiro, fica anichada a aldeia de La Hermida, entre aqueles paredões cársicos que, de Outubro a Março, me disseram, não recebe um raio de sol!

Depois o rio Deva entra nas Astúrias e recebe, da sua esquerda, o rio Cares que, sempre na brincadeira, desce das belas montanhas de Covadonga, esculpindo tudo à sua passagem, abrindo aquele tremendo desfiladeiro de Cares.

Mas os rios contam-nos histórias e, essas suas histórias, até podem ser interessantes, tal como a história do Deva.

O Deva nasce nos belos montes de Fuente Dé e atravessa a comarca de Liébana, uma terra pequena com algumas centenas de habitantes mas que partilha do seu espírito religioso com Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela, devido à sua remota localização entre as Montanhas Cantábricas.

Potes, as belezas de uma localidade cantábrica

Como nos apercebemos do que vemos e do que a história nos conta, ficamos a saber que o vale do rio Deva foi sempre uma zona de refúgio entre as montanhas e foco de resistência, primeiro contra a invasão dos romanos e, mais tarde, contra a invasão dos muçulmanos. E ficamos a saber que quase todos os topónimos da Comarca de Liébana, estão ligados à história ou à lenda.

Potes, uma igreja diferente das nossas

Pelágio terá nascido na aldeia de Cosgaya, entre Camaleño e Fuente Dé e, também terá sido aqui, em Camaleño,  que derrotou pela primeira vez, as hostes muçulmanas, durante as primeiras escaramuças, por ali,  entre cristãos e mouros invasores e, também foi ali, num local chamado Planos, que uma avalanche terá sepultado os árabes que tinham fugido da Batalha de Covadonga em (c.718).

O porta-estandarte de Pelágio, seria um moço de Mosgroviejo, bem perto de Camaleño. E o rei Favila, filho e sucessor de Pelágio, terá sido morto por um urso, em Las Ilces, entre os locais de Cosgaya e Fuente Dé, no meio de uma floresta de faias.

O Mosteiro de Santo Toríbio é a jóia do vale do Deva no município de Camaleño e, para que se saiba, foi mandado construir por Afonso I que sucedeu ao rei Favila.

O então Bispo de Palência, Santo Toríbio, foi cristianizar a comarca de Liébana e que, desde a montanha Viorna lançou a sua bengala até ao vale para decidir o lugar onde levantar um templo. Um boi e um urso acompanhavam o Bispo e convencidos por aquele convívio milagroso, o povo de Liébana ofereceu o seu trabalho ao bispo para a construção daquele mosteiro em Camaleño.

Camaleño, um hotel com flores à chegada

Algum tempo depois, chegaram ao mosteiro uns caminhantes que transportavam, desde Astorga, o Lignum Crucis, um fragmento da cruz de Cristo, cuja madeira parece de um cipestre da Palestina com a data dos tempos de Crisro. Essa relíquia que já estaria há 200 anos em Astorga e tinha sido trazida, da Terra Santa, por outro bispo com o mesmo nome de Santo Toríbio, e com medo que os muçulmanos se apoderassem dessa relíquia, os de Astorga decidiram transladá-la para o vale inexpugnável de Liébana.

Foi assim que Calameño se tornou num quarto santo lugar da Cristandade.

Em 1512, o Papa Júlio II, declarou o Ano Santo Libaniego (ano em que a festividade de Santo Toríbio, 16 de Abril cai ao domingo e concedeu o Jubileu (o perdão de todos os pecados) àqueles que nesse ano peregrinem até Camaleño, atravessam a Porta do Perdão do mosteiro de Santo Toríbio e veneram o fragmento da Santa Cruz, incrustado, desde o Séc. XVI, numa cruz de prata dourada.

Mas o vale do Deva, na Comarca, oferece outros atractivos - o turismo. Desde o grande mosteiro de Santo Toríbio, os casarões de Cosgaya, os celeiros de Espinama, junto a Fuente Dé, a torre medieval de Mogroviejo, as escursões pelos Picos da Europa, bem como as belezas que a natureza nos oferece nos assombrosos bosques das encostas do rio Deva.

Esta comarca de Liébana é um belo sítio, uma espécie de "ilha" seca com muito sol no meio das lindas montanhas atlânticas, com invernos suaves, verões secos e belos outonos com bosques de cores multifacetadas.

A azinheira, o sobreiro, as faias, os castanheiros, os teixos, os amieiros, os azevinhos, os choupos, as avelaneiras, os freixos, ... mostram-nos o verde que nos maravilha durante o verão.

Calameño, um hotel com um banquinho que se entrega ao nosso descanso

A fauna é também abundante: sobrevivem o urso, o trataz, a águia-real, espreitam os lobos, todos em vias de extinção.

Abundam javalis, veados, corsas, camurças, ...

Cultiva-se o trigo, a cevada, o centeio e a vinha ...

As carnes são boas, as trutas, os salmões, os enchidos artesanais, hortaliças, frutas, cogumelos, o cozido da região, queijos com denominação de origem ... dizem eles, é tudo bom.

Enfim! A nossa caminhada no vale do Deva, contrariando a vontade do rio, ele dirigindo-se para norte e nós para sul, presenteou-nos com maravilhas ainda disponíveis neste nosso tempo.

Admirando a bela localidade turística de Potes, e seguindo por Camaleño, rumo a Fuente Dé, apreciando sempre todos aqueles picos e florestas maravilhosas, foi para mim um dia para não esquecer. Depois, no regresso, de Fuente Dé, encontramos um local bem lindo em Calameño, onde, num belo hotel de montanha, acabamos por pernoitar. Entregues as malas à guarda do hotel, lá voltamos a Potes, onde, com toda a calma do mundo, nos banqueteamos com um belíssimo jantar.


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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira

04.01.10

Cilleruelo de Bezana a Altamira


Ventor

Ao sair de Cilleruelo de Bezana, fizemos a nossa despedida da igreja que creio chamar-se de mosteiro de S. Cosmo, mas não deu para confirmar, não deixando, no entanto de lhe tirar mais uma foto e olhar o céu carregado de nuvens com ameça de chuva, uma chuva molha tolos, o que se foi confirmando estrada fora.

Mas pronto! Tivemos mesmo que rafazer as malas!

Às vezes custa refazer as malas! Só mesmo o entusiasmo de reiniciar a caminhada ajuda!

Malas refeitas, uma observação meteorológica às nuvens e uma pequena caminhada pela terra, para saber como e porquê  e para descontrair os músculos e, eis-nos a caminho.

Como o tempo ameaçava o Ventor, em pleno mês de Julho, sempre que o meu amigo Apolo dava uma espreitadela sobre o mau humor deste vosso amigo, só me ouvia dizer: "I catch you, Apolo"!

A mão do Ventor, tentando apanhar o sol

Mas o meu amigo Apolo dizia-me que não era ele o culpado de tanto fazer chorar as fadas de Neptuno. Elas teriam pedido algo a Neptuno que este não lhes deu e elas começaram a chorar e, quando descobriram que o Ventor fazia as suas belas caminhadas pelos montes que ele admirava, e já ali se encontrar sem que elas fossem informadas, ainda mais elas passaram a chorar!

Assim, o Ventor, Apolo e Neptuno, lá acabaram por animar as meninas que só mais tarde, depois de uma grande chuvada na cidade de Santander e a rogo das musas dos encantos, das fontes, dos rios, da terra ... dos duendes ... enfim, de todos, Apolo, me confessou que já estava farto de ver a minha mão a tentar caçá-lo!

Podes usar a máquina Ventor, eu já não vou fugir!

 

 

Este monumento representa-me a alma dos bizontes de outrora

Por isso, após a nossa saída de Santander, as coisas começaram a compor-se. Demos por ali umas voltas, e contra-voltas, junto à costa e, por fim, apontanos o nariz rumo a Las Cuevas de Altamira mas, a ameaça do duelo entre Apolo e as fadas mantinha-se. Já tínhamos, noutros tempos, observado, em melhores condições, La Cueva e seus arredores.

Mas foi lindo! Não sei se sabem que as estátuas, as representações de pessoas e animais ganham alma. E mais ganham ainda quando, noutros tempos convivemos sob a benção do meu amigo Apolo. Não fosse a caminhada do tempo e a transformação que os homens dão, caminhando a seu lado, e tudo estaria na mesma.

Se as caminhadas das civilizações e o seu âmbito cultural tivessem sido mais céleres e cuidadosas, talvez ainda hoje o Ventor conseguisse dialogar com os bizontes de outros tempos.

Os bizontes que foram um dos sustentáculos da alimentação dos meus amigos de la Cueva

Também, nos milénios passados, as várias espécies de ericas que por ali homenageavam o meu amigo Apolo, mostravam a beleza das suas flores à porta de La Cueva de Altamira e, enfeitavam então, os pastos dos bizontes que se alimentavam rodeando la Cueva.

 

Flores à porta de la Cueva de Altamira. Flores para os bizontes

A partir da visão destas flores, tudo começou a correr melhor na nossa caminhada. Eu fiquei a tirar fotos enquanto eles foram tirar os bilhetes para entrarmos e cumprimentar todo esse maralhal que em tempos caminharam a meu lado.

Com o tempo já bem melhor e após observarmos os velhos companheiros de las cuevas, reiniciamos, mais uma vez, a nossa caminhada, sem objectivo definido. A definição era global - Los Picos!


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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira