Uma ronda pelo Ribatejo
No domingo, o meu amigo Afonso, fez 4 aninhos. Ele e a família (nossa família), convidou-nos para o seu aniversário. Mau tempo diluviano por aqui, na sexta, no sábado e, ... como iria ser domingo?
Esteja como estiver, chova ou dê sol, lá estaremos!
Algures, pelo Ribatejo
E assim foi! Fizemos uma caminhada de cerca de 200 kms, pouco mais, partidos ao meio e tudo correu bem. Arranja daqui, arranja dali, fizemos bem a viagem. Também sempre ouvi dizer que, quem corre por gosto não cansa e eu, por campinas do Ribatejo e, ainda por cima, rumo à companhia do Afonso e da sua (nossa) gente, não canso mesmo!
Já senti essa alegria, Afonso, nas fraldas das minha Montanhas Lindas - é a liberdade total, ou quase
Gosto de passar sobre o rio que ajuda a traumatizar o Ribatejo com as suas cheias (não por isso, claro!) - O Alviela. Quando passo uma ponte pequenina sobre o rio Alviela, digo logo: "Olá, Alvi"!!!
Esse pequeno troço do seu vale é lindo e, sei que logo a seguir, ou á esquerda, ou à direita, sempre encontro gado. Espreito da janela da minha viatura uma cabeça no ar, espreitando o Ventor e depois outra e outra e mais outra ....
E se não for esse que espero, haverá este depois
Depois, espreitar os grandes espaços, até lá longe, mesmo que enchapelados por nuvens negras, é sempre uma maravilha! Deixar para trás ruas todas embarriladas de carros, jardins com árvores cobertas dos pintados sarampos outonais e partir para os grandes espaços ribatejanos dá outro nice à nossa vida.
Chegamos, abriram o portão, arrumei o carro, olhei o céu e disse logo: "estou lixado"! O avô do Afonso que tinha ido buscar qualquer coisa, entrou de seguida, arrumou a viatura, caminhou ao meu encontro e, de mão estendida, disse logo: "hoje estás lixado"! Voltei a olhar o céu e disse: "acho que estou mesmo"!
E estava! Não podia caminhar sobre o lamaçal revolvido para apreciar os quatro carvalhos portugueses, observar as suas bolotas, observar a romãzeira, a cerejeira, ... enfim, tudo que me encanta e que me serve sempre de digestivo para o almoço. O ar puro, os cheiros de outono, que emanam daqueles espaços ribatejanos, estão presentes mas, no Ribatejo ou em qualquer outro lado, sem a companhia do meu amigo Apolo, sinto-me sempre lixado!
Espaços abertos, cheios de cheiros, de ... liberdade
As vinhas do meu amigo Baco
Fomos ver o novo palácio dos meus amigos, o sarapintado dalmaciano e o salsicha, que também tiveram direito a uma bela casa e, depois, sentado debaixo do varandim, ao lado das cestas de castanhas e dos figos de Torres Novas, nascidos, criados e amadorecidos ali, agora a secarem-se ao sol, quando ele aparecia, lá ia apontando a minha objectiva em redor, aproveitando mandar a minha máquina, onde eu não podia ir, pedindo-lhe para caçar tudo em volta. Ao mesmo tempo ia contando, mentalmente, e sem falhar, o tempo entre as agualhadas que iam caindo. Veio o almoço, o café, o whisky e, de seguida, as olhadas do Ventor, procurando, entre as nuvens, já quase esvaziadas, o meu amigo Apolo. Mas atrás das esvaziadas, vinham outras carregadas e iam-se sucedendo a intervalos regulares.
Castanhas e figos, nas cestas, belezas presentes
A última casinha é o palácio dos meus amigos
Aqui, entre amigos, eles são cães felizes
Fui ao carro buscar o meu chapéu de chuva, companheiro inseparável, pelo menos em tempos irrequietos. Mesmo com bom tempo, costumo ter a sua companhia e nunca saber se levo um chapéu de chuva, se levo um chapéu de sol!
Abriram-me o portão e lá fui eu dar a minha volta. A mesma volta mas, em menos tempo!
Fui ver o póney, as vaquinhas, observei outros carvalhos portugueses, procurei os mochos, vi a passarada, recebi as boas vindas de cães que eu acordei, etç.
Os frutos do espilriteiro ou escambrões
Por fim, olhando para os lados da serra dos Candeeiros, reparei que a negridão me iria dar uma banhada se eu não estugasse o passo um pouco mais.
Iniciei o meu sistema de aceleração ainda bastante avariado e, tão desengonçado ia que, perante uma galinha pintada, das chamadas galinhas da Guiné e que víamos aos bandos lá por Moçambique, cheguei a pensar que tinha sido "translevitado" para essas terras de sonho.
O raio da galinha tinha furado a cerca, abandonando as outras ou, fosse como fosse, estava separada das suas companheiras e, vendo-me correr, desatou aos gritos:
- "ai que desgraça! O mundo vai acabar! O ventor anda aí e vem a correr. Estou perdida! Como vou sair daqui"?
Eu só via a galinha a tentar procurar por onde entrar e numa gritaria infernal. Apontei a máquina, disparei quatro vezes e sempre acelerado. Foi o que saiu na rifa. Mas ela tinha razão. A tempestade momentânea era de tal ordem que ameaçava tornar tudo num dilúvio. Peguei no telemóvel para pedir para me abrirem o portão, mas nada!
Uma galinha pintada por terras do Ribatejo
Corri até ao portão de guarda-chuva aberto e, depois do portão aberto, continuei até ao varandim, sempre acelerado e foi aí que caiu uma bátega de água. Curta mas cheia de força. As fadas de Neptuno apostaram que tinham chateado o Ventor. Brincalhonas! Logo de seguida, o meu amigo Apolo piscava-me o olho por entre duas nuvens negras a desfazerem-se sobre o rio Alviela!
A beleza das castanhas que foram minha companhia enquanto observava a caminhada das nuvens
Os figos de uma figueira que já passou por aqui pequenina, agora uma senhora
Depois vieram as castanhas assadas e eu emocionado com o caminhar dos minutos, das horas, com a máquina a guardar os figos secos, até me esqueci de tirar as fotos.
Depois foi o jantar, o bacalhau com natas o supra-sumo de alguns e apenas uma página virada nas caminhadas do Ventor. Mas havia outras coisas e o bolo do meu amigo Afonso. Eu já lhe disse que, em Portugal, queremos Afonsos e nada de filósofos! Nada de filosofias que nada têm a ver com as filosofias socráticas. Que se lixem os "Sócrates". Nós somos realistas e só conhecemos um Sócrates - o Grego!
O bolo de anos do meu amigo Afonso
Fim da festa!
Espero que continues a contar muitos, Afonso. Ainda só vais com quatro. O Senhor da Esfera vai ajudar-te, espero.