Voltei aos Corredores ...
... aos Corredores do Desespero.
Os corredores do Desespero já fazem parte integrante das caminhadas do Ventor. Da sua Grande Caminhada.
A tristeza numa cama de qualquer hospital
Tudo começou nos anos 60, no Hospital de Vila Cabral, onde entrei uma vez, para ver se um "turra" que ajudei a evacuar do Lunho, no Distrito do Niassa, no Norte de Moçambique, para aquele Hospital, tinha sobrevivido. Sofremos imenso com a evacuação daquele rapazito de 18 anos, já com treino militar em Moscovo e em Argel e era, então, um desgraçado que fora levado a lutar contra Portugal, no Norte de Moçambique. Ainda hoje estou para saber como aquele Hospital, lá no fim do mundo, safou a vida daquele puto. Ele tinha 18 e eu 23 anos. Mais tarde por várias vezes, no Hospital de São José, do Santa Maria, nos Capuchos, em Lisboa, no hospital Amadora-Sintra, na Clínica da Reboleira (a célebre cama 24), no Hospital da Luz e, agora, mais corredores...
Uma olhada pela janela
Desespero para mim e para todos que circulavam a meu lado. Uns encafuados em camas de grades levantadas, desesperados com dores, naquela grande sala de cuidados intensivos submetidos aos grandes medicamentos, anti-dores, como morfina e corticóides vários ...
Outros, encostados às paredes do corredor, espreitando a oportunidade de poderem entrar para observarem, olhos nos olhos, aqueles que os levaram lá. Depois, outros corredores! Os corredores da esperança onde todos procuram terminar com as dores. Uns, carregam a campainha da esperança, para tomar os medicamentos da esperança, outros para o banho regenerador.
Todos por todos mas, a vida num hospital é muito triste, mesmo quando sentimos que estamos bem acompanhados.
Depois, mais dia menos dia, chega a hora da esperança. Há sempre uma hora para a esperança!
Os lindos cravos brancos que também choram
O homem da bata branca, entra e já sabe tudo. Tudo está no seu computador. Não tem necessidade de se debruçar sobre os pés da cama para ler os relatórios da enfermagem. Ele segue tudo à distância, no seu computador, onde prescreve eventuais alterações e trabalha por amor ao próximo e por amor ao êxito. Ter êxito faz parte da caminhada de qualquer um. Qualquer homem faz por ter êxito nos trilhos da sua vida. Ter êxito é função de qualquer médico e esse êxito pode e deve ser transferido para os seus doentes através da palavra mostrando-lhe que, o interesse do doente é, também, sempre, o interesse do médico. Não há nada melhor para um doente do que uma relação de confiança entre ele e o seu médico e, há médicos que conseguem isso com relativa facilidade.
Foi assim com o meu "malmequer amarelo" e com o médico que lhe transmitiu confiança para ter em mente que vai ser possível refazer a sua caminhada.
As fadas de Neptuno choraram muito
"Como se sente"? Muito melhor Doutor! Réu-téu-téu, daqui, réu-téu-téu, dali.
"vou-lhe dar alta. Quer sair hoje ou amanhã"? «Se posso, quero sair já hoje». "Pode. O que faz aqui pode fazer em casa". "Para a semana não vou cá estar. Vou lhe marcar o dia para tirar os agrafos e para mais tarde fazer um exame para verificarmos se tudo está no seu lugar".
O médico sai e ela, armada em valente, diz-me: «levas-me beber um café à Vela Latina? Quero ver o Tejo»!
Saiu do hospital de pantufas e, disse que queria era ir para casa ...
Mesmo assim, ainda fomos comprar umas chinelas baixinhas e beber o café a Alfragide.
Elas quiseram regar a esperança do Ventor
Agora vem a parte mais interessante - coisas do Ventor. Chegou deitou-se e eu deitei-me a seu lado. Tocou o telefone e alguém disse que a enxurrada já galgava as pontes. Quando nos deitamos caiu um daqueles trovões que parecia arrasar tudo! Mais uns atrás dos outros e grande chuvada. Cheguei e vi o cisne a dançar, só, nas águas turvas. Corri a vestir-me e saí. Quando cheguei já as águas estavam normais. Isto, apenas para vos dizer que os meus amigos, sobrenaturais, também estão sempre comigo. Os raios de Vulcano, as águas que correram rio abaixo, foram a mensagem do choro das musas de Neptuno. Depois apareceram os raios de Apolo e a confirmação de que todos estão connosco.
Esta é a esperança. Veremos!