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As Caminhadas do Ventor

... por aí

As Caminhadas do Ventor

... por aí

No cabeçalho, a ponte romana de Cangas de Onis, sobre o rio Sella. Uma maravilha por onde caminharam romanos, árabes e tantos outros.


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Um lago de Covadonga que retrata as belezas dos Picos da Europa, nas Astúrias


O Ventor saiu das trevas para caminhar entre as estrelas.
Ele continua a sonhar, caminhando, que as estrelas ainda brilham no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continuará a ser belo se os homens tentarem ajudar...

Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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Sagres, uma Jóia de Portugal

No dia que o Sagres fez anos. Foi em 08.02.2012.

Fez 50 anos ao serviço de Portugal.

No dia que a Sagres fez anos, neste ano de 2012, fui cumprimentá-la ao Tejo. Encontrei-a no mesmo local, onde o navio Niassa me apanhou para me levar para os confins de África. Vi, lembrei e recordei, o início de uma caminhada inesquecível.

Vi o Sagres, tirei umas fotos, conversei com ele, à minha moda, mas não entrei! Ouvi o Infante dizer-me: "foi tempo, Ventor! Foram tempos áureos em que tivemos de fazer o peito ao mar e avançar!

"Foi tempo em que desafiamos todos os Adamastores. Não foi só um! Foi uma catrefa deles desde a PONTA, lá em baixo, a Ponta de Sagres (nome que esta beleza austenta), até aos confins do mundo".

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O Ventor esteve com o Navio Escola Sagres e, com o nosso amigo Apolo, na Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa

"Eu sei que tu julgaste que o irias enfrentar no campo da luta entre os oceanos que ali se enfrentam há milénios - o Atlântico e o Índico. Mas, como tu dizes, Apolo quis estar sempre a teu lado e demonstrar-te que, nos campos de Neptuno, o Adamastor poderá aparecer em qualquer esquina do mar, como o fez quando iniciavas a entrada na Baía do Espírito Santo, para conheceres a princesa dos teus sonhos, espraiada frente ao Índico - Lourenço Marques".

 

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Na proa, a rasgar as águas, o Infante D. Henrique

Não entrei no Sagres, evito apertos, sempre que posso, mas deu para embrulhar, nos meus olhos, todo aquele espaço, por onde tenho passado, de vez em quando, pelos anos fora.

Ali, não tinha apenas o Navio Escola Sagres! Ali, estava o Vera Cruz, com mais de 2.000 homens a bordo, gritando que iria arrancar para o mar que conhecia bem mas, para aqueles militares era o desconhecido. Não participei na formatura de cerca de 4.000 homens mas, vi todos eles virados para as varandas da Rocha do Conde de Óbidos, muitos deles com a tristeza estampada nos rostos, enquanto eu, caminhando, no meio de uma multidão sem fim, que chorava, com lenços nas mãos que davam para acenar o adeus e para limpar as lágrimas, procurava e não  encontrava quem queria. Meti-me no meio dessa multidão que via alguém chamar-me, de junto do Niassa, ao lado da minha mala e, quando se aperceberam que o chamado era eu, começara a incentivar-me a desistir: "desiste, não vás! Já stás cá fora!

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O "Terreiro dos Choros e dos Sonhos" - Rocha Conde de Óbidos, no rio Tejo, em Lisboa

Como as dificuldades de sair dali, se tornaram enormes, não penetrava por qualquer lado, fui empurrando, rumo ao sítio mais curto. Precisava de espaço para tomar balanço e saltar as grades para o lado do Tejo. Foi então que tive uma ajuda preciosa. Olhei para a cara do homem que me tentava auxiliar e vi uma lágrima em cada olho. Ele fez um gesto e a multidão colaborou. Arrangei espaço e não saltei, voei sobre as grades para um espaço onde comecei a respirar. O homem que me ajudou, disse: "salte por aqui, meu rapaz, o meu filho já foi no outro. Que Deus vos acompanhe a todos", era um General que se fora despedir do filho que já tinha partido no Vera Cruz e ficou a aguardar a partida do Niassa.

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O Navio Escola Sagres, mostra a sua beleza e saúda os portugueses, honrando-os com os seus 50 anos de Serviços

Fui o último militar a entrar no barco. Quando cheguei ao último degrau da grande escada, virei-me e acenei àquela gente, no meio dela, estavam alguns dos meus amigos que se foram despedir mas, que não cheguei a ver. No momento em que acenei, num todo, o esforço do adeus redobrou. Até pareceu que os braços e os lenços se multiplicaram. Olhei o sítio onde saltei e lá estava o general a dar com um bengalim ou chicote, numa perna. Vi que também levantou o braço. Eu levantei o meu, levantei a mão esticada até junto do meu boné que ostentava a gloriosa águia da Força Aérea e fiz-lhe, mais uma vez, a continência que era, para mim, naquele momento, o meu abraço a toda aquela multidão, onde muitos gritavam boa viagem, que Deus vos acompanhe ... e outros, lá no meio, estavam desesperados por não conseguirem abraçar-me.

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Os portugueses, que poderam, foram felicitar o Sagres e agradecer-lhe

Recordei, então, ao lado do Navio Escola Sagres, toda aquela multidão, de rostos tristes, de braço no ar, dos lenços brancos! Olhei o espaço onde isso tudo aconteceu. As varandas estavam vazias, as grades não estavam lá, a multidão era outra e não passava duma súmula da de então mas, os gritos, lá estavam, penetrando no meu cérebro. Parece que liguei um botão para os recordar.

Mas de vez em quando, vejo as velas do Sagres desfraldadas, a entrar ou a sair do Tejo. Vejo a cruz vermelha, semelhante à da Força Aérea, ostentadas nas asas dos aviões e recordo-me dos tempos que o tempo não repete, mas que o "disco rígido" não desperdiça. Recordo-me da Cruz que substituiu a dos Templários, como Portugal deu a volta às pretensões do Rei de França, Filipe o Belo e a um Papa qualquer. Substituímos a Cruz e estava tudo feito. A Ordem deixou apenas de se chamar dos Templários e passou a chamar-se de Cristo - a Ordem de Cristo.

Isto permite-nos observar como o mundo, o nosso mundo e o mundo dos outros, é feito de voltas e reviravoltas. É o caso do navio Sagres que já pertenceu a quatro países. E sabem uma coisa? Com uns pechisbeques aqui e ali, com o Infante D. Henrique a abrir as ondas, com a Cruz de Cristo nas suas velas, ele deixou de ser apenas um barco e tornou-se numa maravilha dos mares!

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Quando o Sagres abala, nas suas voltas ao mundo, já fez três, desfralda as suas velas e grita: "eu  honro Portugal"

Mas este Sagres, é o Sagres III. É o terceiro navio a desempenhar as suas funções e a levar o nome de Portugal a cruzar os mares, os oceanos. Ele é o representante nacional e internacional da Marinha e do Estado Português. Por isso, tudo o que é «Sagres», tem uma história.

Este Sagres, o Sagres III, foi construído na Alemanha, nos estaleiros de Hamburgo, em 1937, para desempenhar as funções de navio escola da Marinha Alemã. Chamou-se Albert Leo Schlageter. No final da II Guerra Mundial, foi troféu de guerra dos americanos e vendido em 1948 ao Brasil, onde se chamou Guanabara. No Brasil, serviu como navio escola até 1961, ano em que foi adquirido por Portugal e entrou ao serviço da Marinha Portuguesa, em 8 de Fevereiro de 1962, até hoje. 

Ele é uma pérola da Marinha Portuguesa e um símbolo de Portugal. Voltaremos a encontramos-nos, pelo Tejo, Sagres.

 

 

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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira