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As Caminhadas do Ventor

... por aí

As Caminhadas do Ventor

... por aí

No cabeçalho, a ponte romana de Cangas de Onis, sobre o rio Sella. Uma maravilha por onde caminharam romanos, árabes e tantos outros.


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Um lago de Covadonga que retrata as belezas dos Picos da Europa, nas Astúrias


O Ventor saiu das trevas para caminhar entre as estrelas.
Ele continua a sonhar, caminhando, que as estrelas ainda brilham no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continuará a ser belo se os homens tentarem ajudar...

Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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A Morte

A morte é o fim da vida.

Todos nós, sem excepção, teremos o fim da vida. Também o Mark Twain teve! Também o Leão Tolstoi teve! ... Todos teremos, todos nós os que ainda estamos vivos.

Haverá os que morrem e de quem mais ninguém voltará a falar. Será porventura o meu caso e da maioria e haverá os que morrem e de que o mundo, por várias razões, nunca se esquecerá. É o caso desses que falei atrás, é o caso de D. Afonso Henriques, é o caso de Abraham Lincoln e, será o caso de tantos outros que o mundo não irá esquecer.

Mas estamos a falar de pessoas! Há também a morte das instituições, empresas, hospitais, cinemas, cafés, teatros, livrarias,  ... nações ... sei lá que mais! Morre tudo!

Hoje, sentei-me frente ao computador e decidi fazer um post. vou falar aqui, pela ponta dos meus dedos, da morte de uma livraria. A Livraria Portugal.

 

 

Um vídeo, sobre o fim da Livraria Portugal

É pequena a minha história sobre a compra de livros na Livraria Portugal. Mas tenho uma grande convivência com as suas portas e montras e transforma-a, tornando-a maior.

Olha como é a Rua do Carmo! Hoje, já podemos perguntar: "Recordais-vos como era a Rua do Carmo? Não vai ser fácil passar na Rua do Carmo e não ter a imagem da Livraria Portugal. Desde 1961 que eu aprendi a observar aquele espaço como um dos mais belos espaços do Chiado. Sempre gostei e admirei o contraste multiforme que os livros dão a uma livraria. Sempre gostei de livrarias. Observar o colorido das montras e das prateleiras que os livros nos permitem observar e, a Livraria Portugal, tal como a Livraria Bertrand e a Livraria Sá da Costa, foram os meus espaços preferidos para essa observação, caminhando por elas e com elas, pelo Chiado.

 

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O livro que comprei na Livraria Portugal, em 1967

 

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Este livro acompanhou-me na minha guerrinha africana e komarov acompanhou-me, assim, a sul do Equador. Caminhamos juntos porque o Senhor da Esfera assim quis

Recordo-me bem do primeiro livro que comprei na Livraria Portugal! Já lá vão um grande par de anos. Ainda o tenho por aí. Faz parte do meu stock histórico. "Meu filho, nunca voes muito alto, nem muito depressa"! Foi uma das frases, mas não só, que me prendeu a esse livro. Era a mãe de Komarov a falar com o filho quando ele, um puto, a informou que se decidira ingressar na Força Aérea Soviética.

Subia eu a Rua do Carmo e, fiz rebolar os olhos sobre a montra da Livraria Portugal, como sempre fazia. Na frente, bem visível, um livro com a foto de Vladimir Komarov, na capa. Folheei o livro, dirigi-me à caixa, paguei e fui começar a devorá-lo na Brasileira do Chiado. Foi, de certeza, um dos livros que eu li mais depressa e, como não poderia deixar de ser, a minha única lembrança da minha compra de livros, na Livraria Portugal.

 

A morte de Vladimir Komarov 

Voltei a reler o livro. Foi um dos privilegiados a caminhar comigo na minha "guerra" africana. Quase me atrevia a dizer que o Vladimir Komarov andou sempre comigo. Ele foi a minha sombra e eu, por causa dele, acompanhei sempre a grande corrida da conquista do espaço, entre americanos e soviéticos.

Há dias que fiquei triste quando soube que a Livraria Portugal iria fechar as portas. Quase não me dava para acreditar mas, no dia 29 de Fevereiro, chegou a hora da realidade dos factos.

O nosso país está bolorento e cheio de manchas podres. Portugal não lê, não compra livros por dois motivos: "falta de dinheiro e falta de vontade de ler". Também nisso eu mudei radicalmente. Havia, outrora, uma vontade enorme de ler mas, hoje, são muitos os factores que me afastaram dos livros, de comprar os livros novos:

primeiro, ando afastado das belas montras dos livros;

segundo, quando folheio um livro, fico com a sensação que já li aquilo tudo;

terceiro, o cheiro das tintas e do papel, tal como acontece com os jornais e revistas, fazem-me alergias, lacrimejo e acabo com a leitura;

quarto, posso dizer que desisti sem luta. Limitei-me a encostar às boxes.

quinto, a última obra que comprei custou-me uma "fortuna" e vou acabar por morrer, também, sem a ler, pelas razões anteriores.

Nunca tinha comprado tanto livro junto, de uma só vez! Primeiro, porque queria actualizar um pouco, pois iria ter tempo de sobra para ler e ver vídeos. Tinha-me esquecido, que deixei de ser um leitor assíduo de revistas e semanários por causa dos cheiros que me faziam lacrimejar os olhos e tinha de acabar com a leitura.

Não contente com isso, trouxe para casa:

18 volumes, de uma Geografia Ilustrada;

10 volumes da Nossa Natureza;

10 volumes das Maravilhes do Mundo;

10 Volumes da Terra Viva;

15 DVD's sobre tudo isso;

1 livro novo razoavelmente grande, "Os Lusíadas";

1 Novo Atlas do Mundo;

Tudo isto, apenas, para dizer que também estou a morrer. Tornou-se dificílimo, para mim, folhear livros. Portanto, por mil e uma razões, e para infelicidade de todos nós, acredito que mais livrarias irão morrer e farão companhia à Livraria Portugal.

Já imaginaram o que será de Lisboa, sem as suas livrarias? O que será o nosso país, sem livrarias? Será isso que irá acontecer nos próximos tempos! E, o "a, e, i, o, u"? Perguntarão vocês. Pois! No meu tempo levava a lousa e os livros. Agora, estão a entrar os Laptops, os Tablets (não são chocolates, não!), os ... !

Um dia chegarão à conclusão que, afinal, o Ventor não falhava muito. E as Bibliotecas? Valerá a pena editar livros só para bibliotecas? Terão os serviços públicos dinheiros para as manter?

Resumindo: ou vai ter de mudar tudo, ou chega a morte para tudo que ainda nem sonhamos.

 

 

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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira