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As Caminhadas do Ventor

Pelos Trilhos da Memória

As Caminhadas do Ventor

Pelos Trilhos da Memória

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O Ventor saiu das trevas para caminhar entre as estrelas.
Ele continua a sonhar, caminhando, que as estrelas ainda brilham no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continuará a ser belo se os homens tentarem ajudar...


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!


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25.07.18

O Germano


Ventor

O Germano

«Para os amigos, sou Germano»

Foi assim que o Germano se apresentou ao Ventor! Foi esta a "história" que ele me contou! Pedacinhos da sua vida!

Mas esta história, valendo o que vale, para mim vale muito. Por isso a voltei a compor e deixar no sítio onde ela morreu.

O germano é (era?) um jovem! Tem (tinha?) 80 anos, mas parece que tem 60! Está a morrer e diz que quer morrer bem ocupado. Estudar! Deram-lhe 5 (cinco) anos de vida, dos quais, já passou 1 (um).

O Germano nasceu na serra da Estrela e só teve direito a calçado aos 7 (sete) anos! Veio para Lisboa com a 4ª Classe e diz que aos 12 anos já tinha devorado todos os clássicos franceses (seria exagero)?

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As folhas nascem, amadurecem e caem e, tal como as folhas, no seu ciclo anual, também nós amadurecemos e caímos, como o Germano. Elas nascem verdes, amadurecem e caem no seu outono sendo transportadas pelo vento e pelas águas para, tal como nós, nunca mais sermos vistos

Esfalfou-se como pôde a fazer pela vida. Aos 18 anos alinhou com a esperança de mudar este país, com gentes de outros quadrantes, gentes onde reconhece, amigos de ontem serem inimigos de hoje. Mas como ele diz, a vida assim o determinou. Conheceu mundo. Privou com o Leste de outros tempos e não renegou a sua ideologia, mas cansou! Cansou e caiu para o lado. Foi salvo no hospital, de Santa Maria, em Lisboa. Foi operado por um método moderno e disse-me que teria morrido se não tivesse havido progressos no campo das doenças cardíacas. Assim, sempre ficou com mais cinco aninhos, como ele diz.

E cinco aninhos, é quase uma segunda vida. Curta, mas intensa!

Conversamos sobre tudo e sobre a sua esperança de ultrapassar a meta dos 5 (cinco)! Foi operado, e um ano depois ficou sem a sua mulher, companheira de toda a vida que, foi andando para “arranjar sítio para os dois”! Agora vive só, segundo ele, numa casa muito grande numa grande Avenida de Lisboa. Já só tem na bagagem o número 5 (cinco) do qual restam 4 (quatro)! Eu notei nos seus olhos uma montra que guardava por trás das vidraças, numa redoma dourada, a Paz! Depois de tanta Guerra, de uma vida de combate, é bom vivermos emoldurados na Paz!

Falou-me das suas ocupações. Já leva o estudo da sua ascendência na 12ª geração. É obra! Ele vai ocupar-se de um estudo de demografia dos concelhos da área sul de Lisboa, encostados ao Mar da Palha. Diz que vai chegar tão longe quanto puder e que será para servir um museu! Depois de acabar isso, vai dedicar-se ao estudo da Egiptologia e que já tem indícios que é uma falsidade quando se diz que a sociedade egípcia faraónica, era esclavagista! E também me disse que já se sabe que a primeira greve de que há memória deu-se no Egipto dos Faraós, ou há 4.000 anos, ou há 4.000 anos AC, não tenho presente a exactidão da data! Depois ficou parvo a olhar para mim quando eu lhe perguntei: "como e onde"!

Falei de muita coisa com este amigo, que noutros tempos, sem nos conhecermos, teríamos sido grandes inimigos! Mas a mim ensinaram-me que só devo reconhecer inimigos em combate! Gostei deste homem sem gostar do que ele representou! A nossa despedida foi à pressa, talvez para sempre, talvez por uns dias. Quem sabe? Seja como for, agora arranjei um amigo, chamado, Germano!!!

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Eu estou tal como esta estátua de Rodin - o Pensador! De mão debaixo do queijo, pensando! Pensando o que será feito do Germano

Falo do Germano sem entrar na privacidade da sua vida. É difícil dizer-se algo de alguém, penetrando de ilharga, na estreiteza do que sobra para contar. O Germano disse-me o nome, disse-me onde morava, contou-me os seus desgostos e eu acredito que, apesar do Germano não acreditar em Deus, terá um lugar a seu lado! Também vos falo do Germano, sem dizer o que gostaria, para vos dar a entender que vale a pena olhar para o Outono da vida e respeitar as folhas prontas a cair!

Como caem as folhas no Outono, assim o Germano tombará um dia, quem sabe, numa grande casa, numa grande Avenida de Lisboa, ou só, como as folhas que tombam sem que alguém se preocupe com a sua queda, sobre o chão da floresta, sobre as pedras duma calçada ou sobre o chão macio dos Jardins.

As folhas, sabemos nós, serão renovadas, na próxima Primavera, mas o Germano cairá, junto dos seus, ou longe de todos, até que alguém se digne baixar a servis para lhe dar o destino que é dado aos homens, na chegada do seu Inverno! Quem sabe, só, sem família, sem amigos!

Desde que o homem se recorda da sua existência, que pensa. Pensa até ao momento da queda final. É majestática esta obra de Rodin. A sua simbologia diz-nos tanto!

Há obras de Arte que nos transmitem o inimaginável e esta é uma delas. Sabemos que pensamos, mas o pensador estará a pensar o quê? Imaginem a vastidão da sua imaginação! Imaginem se fosse possível dar vida aos pensamentos de cada retoque que o Rodin deu nessa peça!


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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira

24.07.18

A Casa Velha


Ventor

É assim que esta casa é conhecida lá pela serra do Cercal, no Alentejo.

Caminhar pelos arredores de Vila Nova de Milfontes, pelas margens do rio Mira, pela serra do Cercal, sabendo apreciar a Natureza, e esgalhar a imaginação e as realidades da história, apercebemos-nos como tudo é belo e o belo faz-nos sonhar.

Nas encostas da serra do Cercal, debruçadas sobre o rio Mira, bafejadas pelas maresias que sopradas do mar penetram no vale do rio e iniciam uma trepa, serra acima, existem várias marcas da existência das gentes do passado. Será fácil imaginar que por ali caminharam gentes no passado e que as margens do Mira terão sido devassadas e devastadas por homens vindos de vários recantos do mundo, como os vikings do norte da Europa, homens do Centro da Europa e os tais sarracenos das barbáries norte africanas, como muitos outros através dos séculos. Gregos, fenícios, cartagineses, romanos e muitos outros, terão, tal como eu, observado aqueles recantos do nosso mundo, com o mesmo olhar que eu, milénios ou séculos depois, o faço.

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A Casa Velha na serra do Cercal

Mas, subindo esse trilho que passa junto à casa velha, serra acima, de jipe ou a pé, podemos imaginar que, quem a construiu, refez o seu mundo imaginário, cheio de alegria e de vontade de viver a sua vida ou o resto da sua vida, nesse recanto da serra, chamando-lhe a minha "Cassa Nova" e imaginando a sua futura vida de sonhos. Com o rio lá no fundo mostrando-lhe pachorrento as suas águas brilhantes e serenas onde podia apanhar o peixe, com as suas ovelhas espalhadas pela encosta, com o seu jumento, autêntica limosine da época, por perto das ovelhas para, quando necessário, o transportar até à vila tratar das suas necessidades mais prementes, com as suas hortinhas ao pé da casa, onde ia tratando dos seus produtos horticulas enquanto as ovelhas pastavam por ali, que mais querer?

Talvez um dia, velho e desgastado, se viesse a sentir engolido pela solidão. A solidão mata. Mata lentamente, mas mata! Então, a sua "Casa Nova" terá passado a ser a sua "Casa Velha" tal como hoje a vêm as pessoas que ali passam e imaginam as vidas que por ali pulularam, nos tempos em que para alguém, ela terá sido a melhor e a mais bela casa do mundo.


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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira