Soajo, te saúdo
Não podia deixar de ser!
Soajo, a tua gente vive sempre as tuas rochas, os teus penhascos, os teus cabeços
Tenho de saudar Soajo nas minhas Caminhadas. Afinal já foram tantas! Por isso, como o ano de 2006 foi aquele que mais vezes passei em Soajo, depois da minha Diáspora, embora as minhas caminhadas tenham sido feitas em 2006, eu, por razões que estão para além de me fazer caminhar também com o meu Blog, acho que 2007 é um bom ano para deixar aqui a minha saudação à gente de Soajo - àqueles que têm lá o seu ninho permanente e, também, àqueles que pelos cantos do mundo vivem a sua saudade.
Soajo, o teu Pelourinho observa continuamente as tuas motanhas
Soajo é uma terra linda, incrustada num pequeno planalto que assenta as suas raízes sobre a margem direita do rio Lima. Soajo está envolto em montanhas, as minhas Montanhas Lindas. Espalha a sua visão sobre as terras do lado de lá do Lima fazendo-a caminhar por todos aqueles montes que trepam rumo ao Gerês.
Mas Soajo sabe que o seu caminhar natural é sobre os seus montes, rumo aos Bicos e à Pedrada. Foi nesses montes que os soajeiros ganharam fama de intrépidos monteiros nas "caçadas reais". Diziam-me os velhotes dos meus tempos de menino que haviam pelas nossas montanhas da serra de Soajo, todo o tipo de bicharada. Era uma região de carvalhos e de lobos, mas com estes, existiam todos os outros, como raposas, martas, ginetes, veados, javalis, tourões, e demais caça miúda, que se espalhavam pelos vales das suas serranias.
Na ponta de uma espada?
Eu ouvi falar de lobos muito grandes a que chamavam "Asnaes" e de outros mais pequenos a que chamavam "Cervaes". Além dos já nomeados acima, eu ainda ouvi falar de gardunhas, de lontras e ainda conheci os seus riachos cheios de vários peixes como salmões, trutas salmoníades, lampreias, relhos, bogas, barbos ...que subiam desde o Lima. Ali o mundo continuava a sua saga.
Hoje Soajo é, como todas as aldeias em volta, terra da saudade de todos os seus que partiram e que ficaram. Hoje, em Soajo, e nos seus montes, já não se fazem montarias aos lobos ou se caçam javalis, como outrora. Os lobos são protegidos e bem e mais parecem cães selvagens, abandonados, que verdadeiros lobos. Os ribeiros e riachos são poluídos por latas de conservas, por latas e garrafas de cervejas, por sacos de plástico, por todas as pestes das modernices. Nas correntes d'água que se dirigem para o rio Lima são usadas todas as espécies de poluentes modernos destruindo toda a cadeia de vida das águas que já foram das mais límpidas deste mundo.
Soajo, a tua igreja é a minha igreja! Foi aí que me apresentei perante o Senhor da Esfera
Hoje não se pode caminhar nos riachos que descem as montanhas até ao Lima. Os matos não deixam caminhar ninguém. Nos meus tempos nós, a miudagem, desciamos o rio de Adrão sempre descalços, saltando de pedra em pedra como os cabritos, apanhando trutas, fugindo das cobras, apanhando amoras e as uvas que ficavam penduradas sobre os sucalcos. Hoje, mesmo que os matos fossem penetráveis, ninguém poderia andar descalço no nosso rio. Eram tempos que as roupas eram lavadas com sabão azul e branco e não com lixívias e outros que destroem tudo. Quem hoje é capaz de ir carregado até à Pedrada e trazer de volta todo esse lixo que transporta consigo? O Ventor e poucos mais. A maioria, deixam tudo pelo caminho!
Soajo, eu também assisti aos teus bailes na nossa Casa do Povo. Aí vi dançar o «S», a chula, a canaverde, o vira...
Hoje continuo a caminhar no meu rio, apenas em sonho. No real, nem uma fotografia lhe consigo tirar. Continuo a subir e a descer todos os locais por onde outrora caminhava. Continuo a ver os salgueiros limpos, os carvalhos a espreitar as suas águas, estas escorrendo entre os rochedos, brilhando ao sol, os mesmos rochedos e os mesmos poços, com o fundo negro dos lodos acumulados, e o seu cheiro que vem direito às minhas narinas como o melhor dos perfumes. Cheiros a lodos e a trutas, às verduras dos carriços, dos fetos, das urzes, mas só sonhando. A água, na maioria dos troços do meu rio só se ouve, nem se vê, mas sonhando, eu continuo como outrora caminhando a olhá-la.
Soajo, as tuas dedaleiras também são as minhas dedaleiras. Em finais de Agosto de 2006 elas ainda me aguardavam para me saudar
Deixo-vos imagens de Soajo no Fotoblog Montanhas Lindas