O meu amigo pica-pau
Há dias fui até à mata, e apercebi-me que o terror toca a todos por igual. Homens e animais.
Há alguns dias, fui visitar a "mansão" do meu amigo pica-pau. Estava tudo bem. Notava-se a azáfama da renovação da "mansão" e, pelos vistos, não tardaria muito, aqueles meus amigos, iriam colocar, sob o tecto luminoso de Apolo, a sua prole de 2009.
Infelizmente, nada aconteceu como eu pensava. Dias depois, fui fazer um raid pelos lados do Tagusparque. No regresso, entrei no IC 19 e, num ápice, iria passar junto dos meus amigos. Saí do IC 19, encostei o Cinzas e, com toda a calma deste mundo, iniciei uma caminhada lenta, rumo à mansão daquelas coisas fofas, maravilhas deste mundo.
Cheguei e, com a folhagem já mais crescida, liguei a máquina e apontei-a para o local mas, de repente, achei que não estava no sítio certo. Ao reparar em redor, verifiquei que aquela área estava modificada. O tronco velho do pinheiro, onde existia a mansão dos pica-paus, tinha sido derrubado pelo vento.
Terá sido uma tristeza para os pica-paus terem ficado sem a sua mansão
Permaneci ali, algum tempo, a ver se ouvia o belo chilrear dos meus amigos, mas nada! Aproximei-me do tronco estendido no chão e lá estava a portinhola redonda da sua bela casota que tão belos momentos me proporcionou nos últimos anos.
Por fim, resolvi tirar umas fotos e encaminhar-me para fazer a minha retirada rumo a casa pois aproximava-se a hora do almoço. Mas permaneci, por ali, mais um pouco, a tentar ouvir o som que tanto esperava. Por fim, ao iniciar a minha retirada do local, reparei que, da minha direita para a minha esquerda, se deslocava o meu amigo pica-pau malhado grande.
Atravessou sobre as árvores e sobre o seu pinheiro como que a chorar os bons momentos que por ali passou, alguns dos quais a ralhar comigo. Eu sei perfeitamente como um pica-pau malhado ralha com um humano que se intrometia, bem disfarçadamente, na sua área de criação.
Mas também sei como passei ali dos mais belos momentos da minha vida, na companhia de animais tão lindos.
Não me recordo do nome desta borboleta, mas quando em voo, vê-se que é grande e bem visível entre o verde
Mas eu não me esqueço que ele tinha percebido que eu andava por ali sem a intenção de lhe fazer mal. O que ele queria era afastar-me do local exacto do seu ninho. Era esse o motivo porque tanto ralhava comigo. Queria que fosse atrás dele e assim me desviava do seu local sagrado.
Por fim, eu sentava-me por ali perto e ele já não me ligava. Era a minha máquina que ia até ao seu ninho, sem flash, para não o molestar. A zona, entre o arvoredo era escura, com predomínio de luz e sombra e era terrível conseguir fotos decentes. Estraguei tantas, mas ele sabe como eu me portava bem, porque ele valia mais que todas as fotos. Cheguei a ser sobrevoado pelos seus filhotes, pelo menos quatro juntos e ainda hoje sinto uma alegria imensa ao ouvi-los por ali.
Uma libelinha, companheira das minhas caminhadas durante os calores do verão
Hoje há por aquele local muito mais gente e, sendo assim, não voltarei a procurar os meus belíssimos amigos malhados dos bosques.
Eu estou convencido que tudo irá correr bem aos meus amigos pica-paus e que, quando der as minhas caminhadas entre as olaias rosas, eles por lá continuarão a tentar comunicar com o Ventor.
Mas a Natureza tem sempre algo para nos animar num mndo multifacetado de árvores, arbustos e animaizinhos a quererem caminhar connosco! Naqueles bosques, a beleza está sempre presente e eu, chateado, prestes a seguir para casa, sem vontade de ficar por ali, fui logo desafiado por umas belas libelinhas esverdeadas e borboletas a permanecer mais algum tempo na sua bela companhia, entre os sanguinhos e entre as flores. E assim, caminhei entre as velhas olaias cheias de vagens penduradas.
Por fim, lá me meti a caminho e já de carro, tentei ver se as perdizes queriam fazer parte daquela minha caminhada. Mas não! Estava calor elas estariam há sombra dos matos a descansar. Mas ao calor e a descansar, estavam as cabras e as ovelhas que por ali pastam, trazendo-me à memória os tempos de antigamente. Foi o telefonema da dona do Quico, preocupada com a minha ausência, que me acordou para a outra realidade!