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As Caminhadas do Ventor

... por aí

As Caminhadas do Ventor

... por aí

No cabeçalho, a ponte romana de Cangas de Onis, sobre o rio Sella. Uma maravilha por onde caminharam romanos, árabes e tantos outros.


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Um lago de Covadonga que retrata as belezas dos Picos da Europa, nas Astúrias


O Ventor saiu das trevas para caminhar entre as estrelas.
Ele continua a sonhar, caminhando, que as estrelas ainda brilham no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continuará a ser belo se os homens tentarem ajudar...

Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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O Precípício

O precipício?

Sim, ele está presente, permanentemente! Pelo menos caminha a meu lado, ultimamente.

Começou a parede do quarto a segurar-me. Quando, há cerca de 15 dias, caminhava entre a parede e a cama, senti uma vertigem. O que me estava a acontecer era terrível! Iniciei a minha nova viagem, uma viagem diferente. Entrei em órbita!

Parei, encostei as costas à parede, tentei deixar-me cair sobre a cama mas, a parede, uma amiga inseparável, tinha braços, agarrou-me e disse: "não Ventor, eu não te vou deixar cair"!

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O Cabo a Roca visto do Cabo Raso. Hoje seria impossível o Ventor caminhar por lá como já o tem feito!

Agarrou-me, com braços invisíveis, magnéticos. Eu olhava a cama, queria cair sobre ela mas, a parede tornou-se minha aliada e não deixava. Joguei tudo na órbita e no vómito! Deitado sobre a cama, rodava permanentemente sobre uma órbita. A rotativa não era permanente mas, intermitente! E eu, olhava o tecto, as paredes, os móveis e dizia para mim: «mas para onde queres ir»?

O destino não existia e eu rodava, apenas, em volta de nada! Ou, então, tudo rodava à minha volta. Corria para a casa de banho e tentava deitar todas as minhas entranhas fora. Porém, não saía nada. A guerra, era apenas sonora! Sonhei, bem acordado, com Marrupa. Sonhei com a minha caminhada, chão dentro, a velocidade descontrolada, com o chão junto ao nariz mas, sempre em frente!

Agora tinha uma velocidade orbital. Só me apetecia obrigar a parar tudo à minha volta mas, infelizmente, não conseguia!

Pensei apanhar um táxi e ir fazer mais uma visita ao Hospital! Desisti! Se por causa de uma instabilidade qualquer tenho de ir para o Hospital, estou lixado e o país mais lixado fica.

Vamos lá Ventor, faz algo pelo Fox!

A minha companheira de caminhadas interveio. Vou chamar o médico. Se pagas para ele poder vir cá a casa, pois seja! Que se lixam as troikas, o país e tudo o resto!

Utilizou o telefone. Quase duas horas depois, o médico batia à porta. Contei-lhe a minha história, riu-se e disse: "você foi atingido por um problema que afecta muitos - vertigens! Vou-lhe receitar betaserc"!

O médico foi-se embora, desejando-me as melhoras e eu, de seguida, levantei-me para ir à casa de banho. As paredes quase me esmagavam e, com a cabina mais pequena, lá comecei a orbitar. Voltei para a cama, reentrei em órbita, voltei à casa de banho para deitar fora as entranhas mas, não saía nada. Tanto puxei que o meu ouvido direito deu um estalido. Comecei a melhorar!

De noite, fui obrigado a agarrar-me à cama com todas as forças que tinha, depois de voltar a entrar em órbita e gritar: «agora é que eu vou»! "Que foi Luis"? Respondi que o f.d.p. do disco voador não levantava. Afinal não iria para lado nenhum!

De manhã levantei-me, desci as escadas a contar os passos. Não por dificuldades mas, por receio delas. Pensava que, se entrasse em órbita, apesar do disco voador não ser muito forte, poderia partir as paredes em volta.

Dirigi-me ao carro! Olhei em volta, mobilizei a cabeça em várias direcções e, pareceu-me que tudo iria correr bem. Olhei à esquerda, com calma e, de seguida, à direita, de onde um eventual perigo poderia vir. Rodei a cabeça como se fosse um programa de software da Microsoft e, fiz marcha atrás, tal e qual como faria o Ventor dos meus sonhos. Segui viagem com todas as atenções do mundo. Tudo correu bem até Alfragide. Encostei o carro, dei uma pequena caminhada até à Farmácia, comprei o betaserc e, pronto! Comecei uma nova guerra. Entrei num café e zás! Aí foi o primeiro.

Penso que as coisas estão a correr bem mas, ainda sem garantia absoluta! Roda devagar mas sê soft!

Agora, dias depois, voltei ao Facebook, escrevi um post sobre a minha caminhada africana mas, entretanto, já passaram alguns dias. Nem sei, quantos!

Mas entre sonhos e realidade, tenho caminhado, de varanda a varanda!

Tenho me entretido com os meus amigos!

Vou à varanda e o minorca penudo tem continuado por lá. O seu grito é sempre o mesmo! "Olá, Ventor"!

Ouço as boas vindas dos pombos. "Olá Ventor"!

Vou para a outra varanda. A cerca de 200 metros, os cavalos dos ciganos, presos por cordas no espaço do seu sossego, gritam também: "olá Ventor"! Esvoaçando direitos a mim, vindos do campo, quatro estorninhos, que até pareciam vir estatelar-se nas vidraças da varanda, arrancam, quase na vertical, gritando: "olá, Ventor"!

O Tobias, vindo das oliveiras, pousou numa laranjeira à minha frente e gritou diferente: "salvé, Ventor"!

Uma galinha, acabando de pôr o ovo, começou a cacarejar e o galo bateu as asas, emproou-se e, num único folgo gritou: "salvé, Ventor"!

As gaivotas, que abandonam o mar e se colocam no rasto do Ventor, esvoaçam em volta e gritam, contentes: "salvé, Ventor"!

E assim por diante.

Enchi-me de coragem e fui para o jardim fazer rodar a cabeça e tentar comunicar com os meus amigos. Um dos guardas do jardim, que já me conhece, diz-me: "o seu amigo é mau"!

Tratava-se do meu amigo Pingas, o cisne branco, agora, o único da Amadora. «Então porquê»?

"Bate na pata coxa e está lixado comigo"!

Olhei para o Pingas e perguntei-lhe: «oh, Pingas, tu portas-te mal"?

Ele espanejou as asas, e deu um grito! Não sei se chateado com o guarda se contente por me ver. Voltou a abrir as asas e a gritar: "bem-vindo Ventor"!

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Hoje, os medronheiros, tal como o Ventor, estão doentes

E, caminhando, lentamente, quase sem passos, estão a passar-me ao lado, os frutos do Outono. As castanhas, os medronhos e tantos outros vão morrendo, lentamente, esperando que o Ventor volte a fazer parte da sua linda caminhada outonal. Se calhar, com alguma sorte, para o ano, tudo será melhor!

 

 

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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira

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