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As Caminhadas do Ventor

... por aí

As Caminhadas do Ventor

... por aí

No cabeçalho, a ponte romana de Cangas de Onis, sobre o rio Sella. Uma maravilha por onde caminharam romanos, árabes e tantos outros.


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Um lago de Covadonga que retrata as belezas dos Picos da Europa, nas Astúrias


O Ventor saiu das trevas para caminhar entre as estrelas.
Ele continua a sonhar, caminhando, que as estrelas ainda brilham no céu, que o nosso amigo Apolo ainda nos dá luz e que o nosso mundo continuará a ser belo se os homens tentarem ajudar...

Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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O Germano

O Germano

«Para os amigos, sou Germano»

Foi assim que o Germano se apresentou ao Ventor! Foi esta a "história" que ele me contou! Pedacinhos da sua vida!

Mas esta história, valendo o que vale, para mim vale muito. Por isso a voltei a compor e deixar no sítio onde ela morreu.

O germano é (era?) um jovem! Tem (tinha?) 80 anos, mas parece que tem 60! Está a morrer e diz que quer morrer bem ocupado. Estudar! Deram-lhe 5 (cinco) anos de vida, dos quais, já passou 1 (um).

O Germano nasceu na serra da Estrela e só teve direito a calçado aos 7 (sete) anos! Veio para Lisboa com a 4ª Classe e diz que aos 12 anos já tinha devorado todos os clássicos franceses (seria exagero)?

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As folhas nascem, amadurecem e caem e, tal como as folhas, no seu ciclo anual, também nós amadurecemos e caímos, como o Germano. Elas nascem verdes, amadurecem e caem no seu outono sendo transportadas pelo vento e pelas águas para, tal como nós, nunca mais sermos vistos

Esfalfou-se como pôde a fazer pela vida. Aos 18 anos alinhou com a esperança de mudar este país, com gentes de outros quadrantes, gentes onde reconhece, amigos de ontem serem inimigos de hoje. Mas como ele diz, a vida assim o determinou. Conheceu mundo. Privou com o Leste de outros tempos e não renegou a sua ideologia, mas cansou! Cansou e caiu para o lado. Foi salvo no hospital, de Santa Maria, em Lisboa. Foi operado por um método moderno e disse-me que teria morrido se não tivesse havido progressos no campo das doenças cardíacas. Assim, sempre ficou com mais cinco aninhos, como ele diz.

E cinco aninhos, é quase uma segunda vida. Curta, mas intensa!

Conversamos sobre tudo e sobre a sua esperança de ultrapassar a meta dos 5 (cinco)! Foi operado, e um ano depois ficou sem a sua mulher, companheira de toda a vida que, foi andando para “arranjar sítio para os dois”! Agora vive só, segundo ele, numa casa muito grande numa grande Avenida de Lisboa. Já só tem na bagagem o número 5 (cinco) do qual restam 4 (quatro)! Eu notei nos seus olhos uma montra que guardava por trás das vidraças, numa redoma dourada, a Paz! Depois de tanta Guerra, de uma vida de combate, é bom vivermos emoldurados na Paz!

Falou-me das suas ocupações. Já leva o estudo da sua ascendência na 12ª geração. É obra! Ele vai ocupar-se de um estudo de demografia dos concelhos da área sul de Lisboa, encostados ao Mar da Palha. Diz que vai chegar tão longe quanto puder e que será para servir um museu! Depois de acabar isso, vai dedicar-se ao estudo da Egiptologia e que já tem indícios que é uma falsidade quando se diz que a sociedade egípcia faraónica, era esclavagista! E também me disse que já se sabe que a primeira greve de que há memória deu-se no Egipto dos Faraós, ou há 4.000 anos, ou há 4.000 anos AC, não tenho presente a exactidão da data! Depois ficou parvo a olhar para mim quando eu lhe perguntei: "como e onde"!

Falei de muita coisa com este amigo, que noutros tempos, sem nos conhecermos, teríamos sido grandes inimigos! Mas a mim ensinaram-me que só devo reconhecer inimigos em combate! Gostei deste homem sem gostar do que ele representou! A nossa despedida foi à pressa, talvez para sempre, talvez por uns dias. Quem sabe? Seja como for, agora arranjei um amigo, chamado, Germano!!!

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Eu estou tal como esta estátua de Rodin - o Pensador! De mão debaixo do queijo, pensando! Pensando o que será feito do Germano

Falo do Germano sem entrar na privacidade da sua vida. É difícil dizer-se algo de alguém, penetrando de ilharga, na estreiteza do que sobra para contar. O Germano disse-me o nome, disse-me onde morava, contou-me os seus desgostos e eu acredito que, apesar do Germano não acreditar em Deus, terá um lugar a seu lado! Também vos falo do Germano, sem dizer o que gostaria, para vos dar a entender que vale a pena olhar para o Outono da vida e respeitar as folhas prontas a cair!

Como caem as folhas no Outono, assim o Germano tombará um dia, quem sabe, numa grande casa, numa grande Avenida de Lisboa, ou só, como as folhas que tombam sem que alguém se preocupe com a sua queda, sobre o chão da floresta, sobre as pedras duma calçada ou sobre o chão macio dos Jardins.

As folhas, sabemos nós, serão renovadas, na próxima Primavera, mas o Germano cairá, junto dos seus, ou longe de todos, até que alguém se digne baixar a servis para lhe dar o destino que é dado aos homens, na chegada do seu Inverno! Quem sabe, só, sem família, sem amigos!

Desde que o homem se recorda da sua existência, que pensa. Pensa até ao momento da queda final. É majestática esta obra de Rodin. A sua simbologia diz-nos tanto!

Há obras de Arte que nos transmitem o inimaginável e esta é uma delas. Sabemos que pensamos, mas o pensador estará a pensar o quê? Imaginem a vastidão da sua imaginação! Imaginem se fosse possível dar vida aos pensamentos de cada retoque que o Rodin deu nessa peça!

 

 

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A casa velha, implantada na serra do Cercal, debruçada sobre o rio Mira